HISTÓRIA da Inteligência Emocional (IE)
- coachzischang
- 28 de jan. de 2022
- 5 min de leitura
Inteligência emocional (IE) é um tema muito presente no mundo corporativo atualmente, o que torna evidente o quanto profissionais e empresas prezam por essa competência e buscam desenvolvê-la.
Daniel Goleman (1995,1998), apesar de não ter sido o criador da IE, recebeu ampla visibilidade nesse meio, o que acabou transformando as suas obras em verdadeiros best-sellers. Por isso, muitos o consideram o autor da IE, embora isso não seja verdade.
No mundo acadêmico, o interesse pelo tema iniciou-se a partir da publicação do artigo Emotional Intelligence, dos autores Salovey e Mayer (1990), sendo, portanto, eles que devem ser considerados os verdadeiros autores da IE, porém a história da IE é muito mais antiga e complexa. Continue a leitura que vou explicar mais a frente.
O que é a Inteligência Emocional (IE)?
IE seria uma capacidade de perceber emoções, assimilá-las com base nos sentimentos, avaliá-las e, a partir disso, gerenciá-las melhor em si mesmo e nos outros. A IE tem passado por uma longa evolução conceitual, de 1920 e diria que até o momento atual (2022). Pesquisadores do meio científico afirmam de modo geral que ela pode ser compreendida como uma capacidade de gerenciar de forma eficaz as nossas emoções e as dos outros, e de utilizar esse conhecimento ou essa habilidade no gerenciamento de nossos próprios relacionamentos.
Pode-se afirmar que a jornada da IE começa por volta do ano 1920 quando Thorndike amplia o conceito de inteligência tradicional, aquela mais voltada ao QI, para além das capacidades cognitivas e relacionadas, geralmente, apenas ao desempenho acadêmico. Ele apresenta o conceito de inteligência social (IS), definindo-a como uma capacidade de perceber, adequadamente, os nossos próprios estados emocionais e dos outros, além de seus motivos e comportamentos, para que possamos agir, eficazmente, nos diversos contextos sociais com base nessas informações. Essa definição tem grande proximidade com o que é hoje a IE, e, por esse motivo, a IS é considerada atualmente, como a sua antecessora. Além da IS, Thorndike também propôs outros tipos de inteligência: abstrata e mecânica.
Em 1983, o livro Frames of Mind de Howard Gardner, no qual formula a teoria das inteligências múltiplas (IM) que defendia a existência de sete tipos de inteligência, auditiva-musical, cinestésica-corporal, visual-espacial, verbal-linguística, lógico-matemática, intrapessoal e interpessoal, sendo estas duas últimas muito próximas à inteligência social proposta por Thorndike. Gardner defendia que as inteligências seriam, relativamente, independentes umas das outras.
Seis anos depois, em 1989, os autores Campos e Campos e Barret, defendem que a emoção seria uma reação psicobiológica complexa, envolvendo a inteligência, a motivação (impulso para ação), os aspectos socias e os de personalidade que, acompanhados de mudanças fisiológicas, expressavam um acontecimento significante para o bem-estar subjetivo do sujeito no seu encontro com o ambiente.
Finalmente, nos anos 90, os professores Peter Salovey e John Mayer, das universidades de Yale e New Hampshire, respectivamente, trouxeram, pela primeira vez, o termo de "inteligência emocional" para a comunidade científica.
Em 1995, por meio, da obra de Daniel Goleman, intitulada Emotional intelligence, o conceito de IE torna-se bastante popular, sobre tudo no mundo corporativo. Na sua teoria, Goleman se afasta da concepção original de 1990, reformulando-a, e inclui componentes mais ligados à personalidade. Além disso, ele dividiu a IE em cinco dimensões: autoconhecimento, autocontrole, automotivação, empatia e habilidades sociais, sendo as três primeiras relacionadas a competências para lidar consigo mesmo e as demais para lidar com os outros. O autor também afirmou que a IE seria responsável, em grande parte, pelo sucesso ou fracasso da performance pessoal e profissional.
Dois anos após, em 1997, surge mais uma concepção alternativa da IE, desta vez desenvolvida pelo autor Bar-On, que, assim como Goleman, também incluiu a motivação e outras dimensões da personalidade, compreendendo-a como uma competência emocional. Nesse mesmo ano, Mayer e colaboradores revisam o seu conceito inicial de IE, organizando-o agora, em quatro habilidades centrais: (1) percepção das emoções, (2) facilitação ao pensamento - integração, (3) compreensão do conteúdo emocional e (4) autorregulação emocional para promoção de crescimento emocional. A partir dessa revisão teórica, os autores constroem a primeira escala de IE para medição do desempenho individual, com tarefas de situações emocionais, intitulando-a Multifactor emotional intelligence scale (MEIS). Essa escala já passou por um longo processo de melhoria até chegar na sua versão mais atual, intitulada Mayer-Salovey-Caruso Emotional Intelligence test (MSCEIT V2.0), sendo considerada o instrumento de avaliação da IE mais utilizado em pesquisas ao redor do mundo, inclusive no Brasil. Diante de tantas definições e variações encontradas, os autores decidem estabelecer uma nomenclatura para diferenciá-las e, desse modo, organizá-las. A partir disso, foram estabelecidos dois grupos de compreensão da IE:
1- Modelos de aptidões ou habilidades;
Englobam as teorias que compreendem a IE como um tipo de inteligência. Portanto, as teorias desse grupo consideram a IE como uma habilidade cognitiva. A proposta dos autores Mayer e Salovey faz parte desse grupo.
2- Modelos mistos;
São as teorias que incluem, na sua conceituação, os traços de personalidade, os fatores motivacionais e outras competências. A proposta do autor Bar-On faz parte desse grupo.
O primeiro grupo, portanto, possui uma conceituação mais restrita, e o segundo, mais ampla. Ambas as posições existem, concomitantemente, no mundo acadêmico e estudam as interações entre inteligências e emoção.
No ano de 2000, Mayer, Caruso e Salovey reforçam a sua defesa de compreensão da IE como habilidade cognitiva, afirmando que esta cumpre os três critérios rigorosos para atingir o status de tipo de inteligência: (1) conceitual - é uma performance mental, e não características não intelectivas, (2) correlacional - abrange habilidades similares, porém distintas das habilidades mentais já descritas por inteligências previamente existentes e (3) desenvolvimental - é passível de aprimoramento ao longo da vida, com a idade e experiência.
Nesse mesmo período, os ingleses Petrides e Furnham apresentam a IE como um traço, definindo-a, de modo geral como a forma com a qual o sujeito entende e gerencia suas emoções e as dos outros e como utiliza esse conhecimento para gerenciar os seus relacionamentos. Dessa forma, a sua teoria faz parte do grupo dos modelos mistos, pois além de suas capacidades cognitivas, inclui outras competências e traços de personalidade.
O tema IE estava levantando tanta discussão na academia, que em, setembro de 2007, ocorre o Primeiro Congresso Internacional da Inteligência Emocional, sediado pela Universidade de Málaga (Espanha). Nesse evento, participaram mais de duzentos pesquisadores de diferentes partes do mundo, com o objetivo de revisar os modelos teóricos existentes, analisar os avanços no que se refere à avalição da IE e apresentar o impacto da IE no campo aplicado.
Diante de tantas percepções e discussões, percebe-se que o construto IE já passou por algumas discordâncias entre autores e, até hoje, sabe-se que não se trata de uma conceituação tão clara e homogênea entra os pesquisadores científicos. Verifica-se que a perspectiva de considerar duas grandes frentes para a compreensão da IE (modelos mistos e de habilidades) tende a permanecer e se solidificar com o tempo, podendo ser compreendidas como complementares devido ás argumentações existentes a favor de ambas.
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